quinta-feira, 21 de novembro de 2013

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NO PROGRAMA DE TELEVISÃO ESQUENTA: EQUÍVOCOS E REFORÇO DE ESTEREÓTIPOS. AINDA HÁ MUITO O QUE FAZER

O programa Esquenta da Rede Globo do último domingo 17 de novembro, fez um edição especial em comemoração ao dia da consciência negra. Esse programa que tem como apresentadora a atriz Regina Casé, caracteriza-se por trazer para a mídia um número considerável moradores da periferia, dentre eles de negros, mestiços, bem como atores e cantores negros da televisão brasileira. Há uma pretensão, dita abertamente de combater o racismo e dizer que no Brasil somos todos iguais – mito da democracia racial.

Neste último domingo o Esquenta contou com um público bem mais negro e com discussões, figurinos e apelos à questão do negro na sociedade brasileira. Mas embora os negros estivessem quantitativamente representados neste programa de tarde de domingo, os estereótipos continuavam a ser reforçados. Estavam presentes a Juiza Luizlinda, única desembargadora negra, a atriz Thaís Araújo, o ator Luíz Miranda e a ministra da Igualdade Racial. No programa esquenta normalemente os negros e mestiços estão neste programa para dançar e cantar, mas a fala científica sobre sua cultura, sobre o modo de vida da periferia é branca; é sempre um intelecutual branco que tem a palavra. É a essêncialização das culturas e das raças. É o “Danço logo existo” complementado com o “Penso logo existo”. Os negros que resolvem pensar para logo existir têm de fato vez na mídia e demais espaços da sociedade brasileira?

Neste domingo a intelectual negra ministra da igualdade racial, Luiza Bairros teve a oportunidade de falar duas vezes sobre a Lei 10639/03 que há dez anos reza que as escolas brasileiras ensinem a cultura e história Afro-brasiliera e africana. Sua fala foi completada pela de um intelectual branco. Isso mostra o fato evidente de que a ciência brasileira pretende ainda ser branca. Mesmo quando um intelectual negro tem a oportunidade de falar neste programa, é necessário que um intelectual branco legitime a sua fala.

A Juiza Luislinda, uma referência para os negros e mestiços, sobretudo para estudantes de direito, teve 10 segundos para falar, sendo interrompida pela Regina Casé, pois os programa precisava continuar a seguir sua pauta de acontecimentos. 

A Thaís Araujos, esperança de uma fala que realmente quebrasse todo o enredo do mito da democracia racial que perpassa todo o programa - e não fora diferente neste domingo - reproduziu e reforçou ainda mais o discurso do mito da democracia racial e da ideologia do branqueamento da população brasileira, ao falar da cor do filho que tem com o Ator Lazaro o Ramos e da cor de seu pai. Nas suas palavras:

“Minha mãe é mais negra, meu pai é filho de um negro com a pele um pouco mais clara com uma austríaca. Você olha pro meu pai, e ele é bem brancão, cheio de sardas, narigão… Ele é bem misturadão” e “Meu filho é bicolor. O rosto dele é da minha cor e o resto do corpo dele é pretinho igual ao pai dele”

De fato há muito o que fazer. O mito da democracia racial e a ideologia do branqueamento continuam a ser uma armadilha que impedem o resgate da iniciativa história da população negra na sociedade brasileira.




quarta-feira, 23 de outubro de 2013

TRAJETÓRIA DOS ARGUMENTOS SOBRE AS AÇÕES AFIRMATIVAS: DA MARCHA ZUMBI DOS PALMARES À CONFERÊNCIA DE DURBAN



As ações afirmativas atraem a atenção de estudiosos brasileiros desde a luta do Movimento Negro Unificado – MNU pela implantação desta política. Entre as correntes que reconhecem a desigualdade política e social associada à raça duas se destacam e alimentam o debate a respeito do tema. A diferença entre elas está no diagnóstico das causas desta desigualdade e, consequentemente, na postura frente à política pública de ações afirmativas. A primeira parte da ideia de que a desigualdade racial é fundamentalmente econômica (SOUZA, 2005). A segunda, de que a desigualdade resulta, principalmente, da discriminação racial (CAMPOS; DAFLON; FERES, 2010).

As Ciências Sociais têm valorizado as disputas argumentativas, a luta pela construção de justificativas plausíveis sobre o status quo, o funcionamento da sociedade, enfim, o ‘espírito’ do sistema vigente. Trata-se de um processo dinâmico, com incorporação de argumentos pelos adversários, reelaboração de significados e neutralização das críticas (BOLTANSKI e CHIAPELLO, 2009). Mostra-se válido adotar esta perspectiva para análise de um evento circunscrito, como as disputas argumentativas sobre a política de descriminação positiva em período recente.



Acredita-se que houve uma imbricação entre o argumento de que a desigualdade racial tem uma base cultural e aquele que remete a desigualdade racial a causas econômicas. Esta junção de linhas argumentativas gerou uma justificativa que tende a dissolver a questão da desigualdade e também da identidade racial, no caldo dos conflitos de classe social. O argumento baseado na raça, paradoxalmente, manteve a ênfase no biológico, ou seja, no aspecto genético, apesar de as teorias científicas terem negado este viés e do impulso inicial do movimento social na direção da desconstrução deste tipo de justificativa. A sobreposição de argumentos indica uma complexa combinação entre permanência, incorporação e mudança nas justificativas mobilizadas pelos críticos das ações afirmativas.

O que foi feito mapeando o significado dos discursos de raça, classe social e economia presentes em artigos que tratam dos eventos da marcha Zumbi dos Palmares, Seminário em Brasília e da Conferência de Durban, a fim de diagnosticar possíveis alterações nas linhas argumentativas. A alteração nos argumentos ocorreu de modo a desvalorizar certas justificativas em detrimento de outras. A justificativa apresentada na Marcha Zumbi dos Palmares, por exemplo, sofreu modificações cujo efeito foi prejudicial à luta por ações afirmativas.

A MARCHA ZUMBI DOS PALMARES E SEUS ARGUMENTOS


Os argumentos a respeito das discriminações positivas emergiram na Marcha Zumbi dos Palmares, organizada em 1995 pelo Movimento Negro Unificado – MNU. Tal passeata trouxe à cena pública justificativas de tipo racial, cultural e econômica. O contexto era de avanço das lutas pelas políticas públicas de discriminação positiva. É possível observar a formulação de um contradiscurso referente à raça na Marcha Zumbi dos Palmares, pois o objetivo era desconstruir as teorias que trabalhavam o conceito de raça pelo viés biológico, presente nas correntes monogenista e poligenista. A primeira defendia que a humanidade era formada pelo gradiente que ia do menos ao mais perfeito. De acordo com tal vertente todos pertencem à mesma espécie, entretanto, a espécie comporta uma hierarquia entre as raças em função de supostas diferenças entre os níveis mentais. Ao passo que a teoria poligenista interpretava as raças como pertencentes a diferentes espécies, não redutíveis, portanto, a uma única humanidade. 

A desconstrução desse conceito ancorou crítica à concepção de raça do Conde Gobineau, que via negros e índios como pertencentes a raças inferiores. Como apontaram Costa, Pinhel e Silveira (2012, p. 102), na “passagem da noção de raça degenerada de conde Gobineau para a celebração da cultura brasileira realizada por Gilberto Freyre na sua vasta obra, o sincretismo cultural termina servindo de modelo à mestiçagem entre famílias de origens étnicas e sociais distintas”. 

Observa-se que a Marcha Zumbi dos Palmares possibilitou uma contraposição ao argumento biológico sobre diferença racial. A ênfase passou para o lado da diferença cultural entre as raças. O discurso cultural deve seu impulso inicial na obra Casa grande e Senzala de Gilberto Freyre. Adeptos dessa visão partem da hipótese de que no Brasil o problema não é racial em termos biológicos, uma vez que, diferente de outras nações, nosso país sempre conviveu com a mestiçagem e a miscigenação. 

A ideologia da mestiçagem e da miscigenação foi um constructo político incentivado pelo governo de Getúlio Vargas a fim de fundar a ideia de democracia racial moderna. A miscigenação visava o branqueamento da população negra brasileira (COSTA, 2001). De acordo com tal política em aproximadamente três décadas a raça negra seria extinta, uma vez que os casamentos inter-raciais produziriam, com o passar dos anos, um fenótipo predominantemente branco (ROCHA, 2009). Em complemento à miscigenação a ideia de mestiçagem correspondia ao sincretismo cultural, que era base do projeto de construção de uma cultura brasileira unificada (COSTA, PINHEL; SILVEIRA, 2012) e universal.

O argumento da mestiçagem e da miscigenação fortalece o discurso de que o problema racial no Brasil tem uma causa econômica; no limite, não seria um problema de conflito entre raças, mas, de classe, ou conflito entre classes. Segundo Jessé Souza (2005) os negros e os brancos pobres não conseguiram interiorizar os valores morais que emergiram na era moderna, demonstrando ser a variável explicativa da desigualdade histórica econômica, e não racial. Esse fato revela o processo de exclusão social dos brasileiros pobres de modo geral, independente da cor. E demonstra a necessidade de políticas públicas que reduzam a distância social entre pobres e ricos no acesso aos bens simbólicos que permitam a consolidação do projeto da nação moderna brasileira.

Após analisar os argumentos de raça, cultura e econômico na passeata Marcha Zumbi dos Palmares, observa-se que os dois últimos se ressignificaram, transformando-se no argumento de classe social. O argumento de raça na Marcha Zumbi dos Palmares apareceu como o fator que explica a desigualdade entre não brancos e brancos. Ele foi associado à desigualdade fenotípica, que contribui para a existência do preconceito de marca discutido no Seminário em Brasília. No entanto, o discurso de raça sofreu mutação ao logo do tempo e apareceu na Conferência de Durban com um viés geneticista.

Na Conferência de Durban predominou a linha argumentativa que entende o problema da desigualdade brasileira como econômico, e não racial (SOUZA, 2005).

O argumento da genética enfatizado por Sérgio Danilo Pena aponta que todos os brasileiros têm no seu genoma a contribuição das raças: negra, indígena e europeia. Por isso não há como definir quem é negro no Brasil. O discurso da genética mantém o argumento de raça, só que passa a mencionar as diferenças de genes e não as diferenciações fenotípicas que prevaleceram na Marcha Zumbi dos Palmares.

É por este motivo que podemos constatar que o argumento de cultura e economia se imbricaram para formar o discurso de classe social, ao passo que o discurso de raça permaneceu com significado biológico no sentido genético, apesar de as teorias cientificas o terem desconstruído. O que indica a permanência (conceito raça) e a modificação (transformação do discurso econômico e cultural no de classe social) de certos argumentos das ações afirmativas na passagem do evento da Marcha de Zumbi dos Palmares à Conferência de Durban.




Viritiana Aparecida de Almeida

Nelson Rosá de Souza


Confira o artigo integral no site oficial da  Revista Sociologias Plurais

terça-feira, 22 de outubro de 2013

NOTA SOBRE O FILME “O GRANDE DESAFIO”



Como mais uma edição do Cinegro, atividade realizada pelo Coletivo de estudantes negrxs da UFPR – Coletivo “Sou neguinh@”, assistimos e debatemos no sábado (19/10) ao filme “O grande desafio”. Um filme baseado em uma história real cujo protagonista é o professor Melvin Tolson (personagem de Denzel Washington) e ambientado em um contexto sociorracial do sul dos EUA de 1935.
Melvin Thompson é um professor excepcional e um amante das palavras. E para além da sala de aula ele é um cidadão estadunidense que a partir de suas convicções políticas comunistas, busca conscientizar a população para se unir e fazer valer seus direitos trabalhistas, embora isso possa atrapalhar sua carreira. Melvin Thompson identifica alunos da pequena Faculdade Wiley College do Texas, com um grande potencial e decide apostar neles para formar um grupo de debatedores, a fim de participar de concursos de debate no país, chegando a alcançar seu grande objetivo, enfrentar a tradição de Harvard diante de uma grande plateia.
Segue aqui um pouco do que assistimos, debatemos e aprendemos com esse filme. Em primeiro lugar foi consenso, entre os participantes no debate, que o filme apresenta muitas semelhanças, no que se refere aos efeitos sociais e psicológicos do racismo contra os negros, entre o contexto sociorracial dos Estados Unidos e o contexto brasileiro, a saber: a existência dos preconceitos, da discriminação (mais velada talvez) e a marginalização socioeconômica como resultado deste fenômeno social. Mesmo que o racismo naquele contexto tenha tido estratégias sociais diferentes do Brasil, como já é conhecido e difundido.
Contudo, o filme tem um significado afirmativo. Vale destacar o papel da educação e, particularmente, do trabalho do professor da pequena faculdade negra Wiley que se propõe preparar uma vencedora “equipe de debatedores” que, depois de concorrer com diversas universidades negras e brancas, vence a famosa universidade de Harvard. Mas a preparação dessa equipe não foi sem conflitos de várias ordens, já que em diversos momentos do filme no que se refere a questões emocionais e afetivas (traumas, ciúmes, traição amorosa, insegurança emocional, vulnerabilidade social) e políticas (dificuldade de aceitação da opção política do professor na organização de trabalhadores arrendatários) ameaçaram a coesão e desempenho da equipe de debatedores.
No debate que seguiu à exibição se evidenciou aspectos significativos. Destaca-se a discussão sobre a importância das igrejas protestantes, bem como das universidades negras, já nos anos 1930, como “espaços públicos” de educação e formação política dos negros estadunidenses; a solidariedade de grupo; a superação de dificuldades subjetivas como o medo; a preparação intelectual e emocional de negros e negras; a situação de submissão da mulher, bem como a indicação de nova atitude por parte de jovens mulheres negras (presença de uma mulher na equipe de debatedores); e a importância de modelos referenciais como fator de encorajamento dos jovens, entre outras coisas. Como se pode perceber tais evidências podem dar uma ideia da riqueza que foi assistir e discutir um filme coletivamente, pois a contribuição de diversos pontos de vistas e de saberes pôde proporcionar reflexões muito significativas.
Por fim, aprendemos a partir do filme e do debate que a preparação da “equipe de debatedores” representa uma bela e profunda metáfora do processo histórico-cultural dos negrxs estadunidenses. O filme mostra, no fundo, uma geração de lideranças negras na atividade de preparação de nova geração de lideranças negras que dará continuidade à luta pelos direitos civis dos negros naquele país.  Em última análise, o filme pode ser uma metáfora sobre nós também, negrxs brasileirxs em movimento, pois evidência os desafios sociais e psicológicos que precisaremos enfrentar se quisermos ser uma nova geração de lideranças negras que produza alguma consequência socialmente positiva para nós mesmos, como pessoas, para o conjunto de nosso grupo social e para o Brasil.

 José Antonio Marçal   


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

LEI 10.639/03- IFCH CRIA 1º PROGRAMA NO PAÍS DE HISTÓRIA DA ARTE NÃO-EUROPEIA


            Uma noticia muito importante. A Unicamp oferecerá a partir de 2014, uma pós-graduação em história da arte não-europeia. Trata-se do primeiro curso desse tipo no Brasil. Conforme a professora Cláudia Valladão Mattos, do Instituto de artes (IA) e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Segundo Cláudia, o estudo da história da arte produzida fora da tradição europeia é uma tendência que vem se consolidando em várias partes do mundo. “Nos últimos dez anos, mais ou menos, os cursos de história da arte no exterior passaram a expandir seus currículos e a contratar professores que trabalham fora da tradição europeia. Isso cada vez mais acontece nos grandes centros”.
            Estabelecido a duas décadas, O programa de história da arte da Unicamp tem trabalhado com duas linhas de pesquisa: Estudos da Tradição Clássica e Arte Moderna e Contemporânea. Segundo Cláudia, o Brasil encontra-se em uma situação especial para ampliar esse repertório: “Este é um país onde existe um legado cultural que vai muito além do desenvolvimento de uma arte europeia transplantada para o Brasil”. O novo programa terá como conteúdo a Arte Pré-Colombiana e Ameríndia, a Arte Africana, a Teoria da Arte e Arte Japonesa. A Arte Africana tratará da arte afro-brasileira bem como da produção tradicional e contemporânea daquele continente.
            Segundo a professora, “Já existe uma grande coleção de obras afro-brasileiras no Museu Afro-brasileiro no Ibirapuera em São Paulo. Uma coleção excepcional”. Porém, “não existem coleções públicas de arte africana no Brasil. E para entender a arte afro-brasileira, é muito importante a gente começar a pesquisar e entender o que de fato é essa produção na África. Quais são os grupos, quais as manifestações artísticas, e desenvolver isso”.

Veja a matéria na integra em:
http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/educacao/lei-10-639-03-e-outras/20817-lei-10-639-03-ifch-cria-1-programa-no-pais-de-historia-da-arte-nao-europeia

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

AS COTAS SÃO APENAS PARA A POPULAÇÃO NEGRA?

Será mesmo que a população negra está sendo privilegiada? E a reparação histórica, onde fica?


O professor responsável pela questão do vestibular, Emerson Cervi, explica que, analisando os números, percebe-se que a política de inclusão racial acabou tendo um efeito prático na questão do gênero, já que o grupo que mais aumentou dentro da instituição foi o de mulheres negras. Para o sociólogo e professor da UFPR, Ricardo de Oliveira, o fato de ter havido uma diminuição no número de alunos brancos na universidade representa um aspecto negativo da política de cotas. Para ele, é preciso aumentar o número de vagas como um todo na instituição, e não privilegiar determinados grupos da sociedade.

Veja a matéria na integra em:

domingo, 25 de agosto de 2013

MACHA CONTRA O GENOCÍDIO DA POPULAÇÃO NEGRA EM CURITIBA


            Na quinta feira dia 22 de agosto, estudantes negros/as da Universidade Federal do Paraná, membros do movimento negro, da rede de mulheres negras e demais pessoas da sociedade, foram para as ruas de Curitiba com cartazes, megafone e instrumento de percussão para protestarem contra a morte e a criminalização da população negra e contra a institucionalização do racismo na cidade de Curitiba, a Marcha contra o genocídio da juventude negra ocorreu na cidade e em todo o país.
            A Marcha iniciou em frente á prefeitura com uma parada no Largo da Ordem, seguiu para a “Boca maldita”, na rua XV de novembro. Na parada realizada no Largo da Ordem foram lembradas as memórias das pessoas que “tombaram” na luta contra o racismo no Brasil e no mundo e as que continuam enfrentando essa realidade brasileira. Também foi falado sobre a falsa democracia racial difundida no Brasil há décadas, ideia que não passa de um mecanismo para silenciar as tentativas da população negra de se articular na busca pela igualdade, direito e oportunidade.
            Na Boca Maldita foi recordada a falsa ideologia de Curitiba como “cidade europeia” que busca invisibilizar a presença da população negra da cidade. A população negra de Curitiba existe e foram às ruas para mostrar a sua cara e o seu corpo negro. Foi lembrado também o fato de que as políticas públicas do Estado Brasileiro não dão conta de atender à população negra em suas necessidades e direitos básicos.
            A marcha terminou com um grande círculo na boca maldita onde foram rememoradas as estatísticas de homicídio da população negra, na qual apresenta que a cada quatro jovens que morrem no Brasil, três são negros. E, que a violência contra os negros em Curitiba é a mesma que em São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e demais cidades, ela ocorre porque se trata de uma questão racial; esses jovens estão morrendo simplesmente por serem negros.

“Vem pra rua, vem contra o racismo!”.






























segunda-feira, 12 de agosto de 2013

AULA INAUGURAL DO CURSO INTENSIVO DE FORMAÇÃO PRÉ-ACADÊMICA: AÇÃO AFIRMATIVA NA PÓS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ


           Na manhã do dia 12 de agosto às 9 horas, foi realizada na sala Homero de Barros da Universidade Federal do Paraná, a aula inaugural do Curso intensivo de formação pré-acadêmica: Ação afirmativa na Pós. O curso é uma iniciativa promovida pela UFPR através de suas Pró-Reitorias de Graduação (PROGRAD), do Núcleo de Estudos Afro Brasileiros (NEAB) e Núcleo Universitário de Educação Indígena UFPR (NUEI).  O curso será realizado no período de 12 de agosto a 10 de setembro de 2013 com oferta em dois turnos de 8 horas diárias, de segunda à sexta-feira. O objetivo é preparar os alunos para ingressarem na pós-graduação (mestrado ou doutorado).
            A aula inaugural foi iniciada com uma mesa composta pelo professor Paulo Vinícius da Silva do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE-UFPR) e membro do Núcleo de Estudos Afro brasileiros (NEAB-UFPR), pela cientista social Márcia Regina Santos de Jesus, pelo professor Paulo Borges do Movimento negro de Curitiba, pela professora Andréa Rocio Caldas, diretora do Setor de Educação, pela professora Deise Picanço, coordenadora da Pró-Reitoria de extensão e cultura (PROEC), pelo professor Edilson Silveira, coordenador da Pró-Reitoria de pesquisa e Pós-graduação da UFPR e pelo Reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrino.
          O professor Paulo Vinícius abriu à solenidade e falou da importância da realização desse curso na UFPR.  Nesta fala ressaltou a fragilidade socioeconômica de vários alunos/as durante a graduação, o que contribui para uma desistência e elevar a desigualdade na participação do processo seletivo para ingressar na pós-graduação. O mesmo reforçou a importância da inserção dos graduados/as negros/as na pós-graduação, uma vez que a conclusão do curso não é suficiente, em muitos casos, para o acesso ao mercado de trabalho. A graduada em Ciência Sociais Márcia Regina falou da importância que é para ela e demais colegas da graduação essa preparação para acessar o mestrado e o doutorado, uma vez que a mesma desigualdade de oportunidade existente para o acesso à graduação persiste no acesso à pós-graduação.
            O professor Paulo Borges, disse que o programa de cotas raciais é uma realidade na UFPR e lembrou a militância do movimento negro que desde os anos 1980 incluía em sua pauta de discussões, as ações afirmativas na Universidade e um olhar mais cuidadoso para a educação como um todo. Lembrou sobre a importância da lei 10639/03 como importante forma de apoio do Estado à construção da educação inclusiva nas escolas dentro da proposta das ações afirmativas na educação. O professor Borges falou do cursinho pré-vestibular para negros/as, que existe a dez anos e lembrou o fato de alguns alunos/as que passaram por essa preparação estarem formados em diversos cursos da graduação e, outros na pós-graduação, alguns poucos, estudando no exterior além de outros com doutorado ensinando em várias partes do país.
            A professora Andréa Caldas disse que ainda não existem condições igualitárias para todos/as da comunidade acadêmica. Pois se sabe que há questões fundantes para educação superior e também para a educação básica e, que estas precisam serem resolvidas. Ela ressaltou que é “a presença dessas pessoas que faz com que a universidade tenha sido obrigada a se repensar com mais urgência” na sua forma de incluir todos/as da sociedade no ensino superior. Andréa Caldas lembrou também da importância de se formar intelectuais negros/as para que possam estudar e contar a sua própria historia com autonomia, pois a universidade é financiada por todas as pessoas, logo ela é o espaço de todos. Assim, ela concluiu que é necessário construir uma educação inclusiva para que no futuro não se necessite de programas ou leis de cotas nas universidades, uma vez que a educação será igual para todos. A professora da Educação vê que o grande desafio da UFPR é manter o mérito com a expansão acadêmica e em paralelo continuar a sua qualidade de serviço.
            A professora Deise Picanço disse que a ausência de conhecimento gera processo de exclusão e impende a universidade de ser mais plural. Foi dito também que desde que assumiu a coordenação da PROEC, tem buscado estabelecer um diálogo com os diversos setores da UFPR que buscam aprimorar as políticas afirmativas e o acesso a todos/as da comunidade, à universidade. Ela ressaltou da necessidade de flexibilização dos currículos em função desse novo momento da universidade e disse que já se iniciou uma discussão com a PRPPG nesse sentido. Pois segundo a professora “Não basta ter acesso ao conhecimento, mas é necessário ter acesso também às formas de construção e elaboração do mesmo”.
            O professor Edilson Silveira da PRPPG informou que até 2015 a UFPR estará titulando por ano o dobro de doutores titulados no ano passado (2012). Ele ressaltou a importante para a universidade de ter a participação da diversidade da comunidade entre os pós-graduandos/as da UFPR. Segundo ele, “não se pode ficar em um castelo de cristal, mas deve-se dialogar com toda a sociedade brasileira”, tendo ela dentro da universidade.
            O Reitor da UFPR, Zaki Akel lembrou o clima de tensão que houve na implementação das cotas na UFPR em 2004, quando o professor Carlos Moreira ainda era Reitor. Segundo ele agora há menos conflitos com relação à aceitação das cotas na graduação. Ele ressaltou a lei nacional de implementação de cotas como algo que ajudou a tornar menos tenso o clima de aceitação de cotas na UFPR. Zaki Akel falou da importância do Programa Nacional de Bolsas que auxiliam na permanência de muitos/as alunos/as na universidade pública. Disse que é necessária a boa formação de professores/as e lutar “para que a carreira de docente não seja como um sacerdócio, cheio de sacrifícios”, mas que os professores/as exerçam suas profissões com prazer e dignidade. Ele saudou os professores do Centro de Línguas e Interculturalidades da UFPR (CELIN UFPR) e lembrou da importância do centro de línguas  na formação dos alunos/as da UFPR em língua estrangeira como um todo.
Lembrou ainda, que durante a sua gestão o programa de assistência estudantil foi ampliado com a expansão do ensino na UFPR. A busca, tímida, da acessibilidade dos deficientes, entretanto, não falou da falta de investimento nas relações entre a academia e os novos sujeitos que se fazem presente no meio acadêmico. O Reitor encerrou sua fala lembrando a conversa que teve com a Secretaria da Igualdade Racial em Brasília sobre cotas na graduação e disse que enquanto as cotas na pós-graduação da UFPR não são uma realidade, é necessário apoiar esse curso de preparação para a pós-graduação.