quarta-feira, 31 de julho de 2013

I° CONGRESSO DE PESQUISADORES(AS) NEGROS(AS) DA REGIÃO SUL - COPENE EM PELOTAS: UMA CONQUISTA DA REGIÃO SUL

            Entre os dias 24, 25 e 26 de julho aconteceu em Pelotas/Rio Grande do Sul, o 1° Congresso brasileiro dos pesquisadores e pesquisadoras negras, COPENE Sul. Pesquisadores negros/as e brancos/as da Região Sul do Brasil se encontraram no Instituto Federal Sul Rio Grandense – IFSUL, para partilhar suas pesquisas, descobertas, e inquietações acerca da temática das relações étnico raciais e dos enfrentamentos que os/as negros/as têm na academia, na sociedade e no sistema educacional brasileiro como um todo, ao discutirem essa questão enquanto acadêmicos ou militantes. Os 10 anos da Lei 10.639/03 foram tidos como o eixo central que orientou as discussões que aconteceram nos grupos de trabalhos e nas mesas redondas. O tema do congresso foi: “Lei 10639, dez anos rompendo fronteiras territoriais, culturais, sociais, acadêmicas e políticas”.

Foto de Natália Luíza
            A organização do congresso proporcionou aos participantes uma calorosa e amistosa recepção, o que proporcionou uma maior integração entre pesquisadores/as negros/as dos estados do Sul que se encontravam, para partilhar seus trabalhos sobre relações étnico-raciais.
            Abertura COPENE Sul foi feita pela coordenadora do evento, Georgina Helena Lima Nunes. Ela falou da realização desse evento como uma vitória, uma vez que fora necessário o diálogo entre diferentes instituições das cidades e dos estados para que o congresso se realizasse.
            A mesa de abertura do congresso contou com a presença da própria Georgina, do reitor da UFRGS, Carlos Alexandre Netto, do reitor da Universidade de Pelotas, Mauro Augusto Burkert Del Pino, do reitor da PUC de pelotas, José Carlos Pereira Bachettini Júnior e do Presidente da Associação Brasileira de pesquisadores (a) negros (as) – ABPN, professor Paulino Cardoso, Secretária de Educação de Pelotas e Pro Reitora de Assunto Estudantis.


Foto de Natália Luíza
            O professor Paulino disse na mesa de abertura que “vivemos em um novo ciclo democrático, temos empregos, escolas, etc, mas queremos muito mais. Queremos fazer avançara democracia” brasileira. Ele ressaltou ainda que “não é possível construir uma democracia sem o enfrentamento das questões raciais”.
            Na abertura do evento foram homenageadas personalidades importantes para a luta da população negra, seja na academia, seja na militância ou na divulgação e defesa da cultura negra em outros espaços. Dentre os homenageados tivemos a sacerdotisa e pesquisadora paranaense, Yagunam, mestranda na Universidade Tecnológica do PR. Personalidade importante na manutenção das tradições africanas no estado paranaense, e estudiosa das relações entre as tecnologias e a religiões d matrizes africanas.
            A conferência de abertura do congresso foi realizada pela professora Doutora Petronilha Beatriz G. Da Silva da UFSCAR. Ela iniciou sua fala dizendo que o COPENE Sul “não é apenas um evento cientifico, mas um evento científico negro” e, a construção desse pensamento  está chegando na universidade. Petronilha ressaltou também a importância dos “aliados” brancos nesse processo de mudanças significativas na academia uma vez que eles “nos ajudam” como contraponto para dialogar em espaços em que a presença negra ainda não é aceita pela sociedade. 

Foto de Natália Luíza
Mesa de conferência de abertura: Tema: Historicidade da lei 10639/03 e o papel do/a intelectual negro/a na educação.
           Petronilha ressaltou também que é necessário reconstruir a história e a identidade do povo negro a partir de um referencial negro, pois segundo ela os prêmios da meritocracia “nos pedem como contrapartida, que “esqueçamos nossa identidade e embranqueçamos”. A identidade negra tem sido construída no confronto com uma visão de mundo eurocêntrico, com uma “mentalidade branca”. A negritude é segundo Petronilha, uma construção permanente, mas é também uma desconstrução do sistema mundo”. Assim, a discussão das relações raciais “não é apenas assunto de negros, e discussão para negros.” é por isso que chega a lei 10639. Dito de outra foram, as relações raciais do Brasil não se configuram apenas  como problema só do negro, mas de toda a sociedade brasileira.
             Um fato interessante desse congresso foi além da reunião dos NEABs horas antes da abertura do evento, a reunião dos Coletivos de Estudantes Negros/as, que em algumas universidades existem em função da ausência de NEAB e em outros em função da busca de autonomia e empoderamento dos estudantes negros/as da universidade. Esse encontro foi articulado no decorrer do congresso (não estava previsto) e foi muito produtivo porque possibilitou que jovens estudantes negros se conhecessem e trocassem experiências de como lidar com as situações de racismo e gerenciar os enfrentamos no cotidiano da vida acadêmica. Ficou plantada a semente de uma futura organização regional e nacional dos coletivos de estudantes negros do país para que eles possam se fortalecer e articular atividades em comum.

Foto Natália Luíza
Yagunam homenageada do COPENE Sul 
Foto de Sérgio José Miguel 
MESA:Trajetória da produção de conhecimento negra na Região Sul do Brasil e a pesquisa no âmbito das relações étnico-raciais como potencializadora para implementação da lei 10639/03.

 Prof. Dr. Paulino de Jesus  Francisco Cardoso (UDESC); 
Prof. Roberto Santos (ULBRA); 
Profa. Dra. Zélia Amador de Deus (UFPA).
Foto de Sérgio José Miguel
Exposição de painéis: ‘’Lei 10639/03 para além das fronteiras da educação’’. 
Foto de Sérgio José Miguel
Reunião de estudantes negros/as e de coletivos do Sul.
Fotos de Sérgio José Miguel
Foto de Sérgio José Miguel
Representantes dos Coletivos presentes no evento. 









quinta-feira, 25 de julho de 2013


Marcha das vadias de Curitiba:

Enegrecendo o feminismo


Foto de Wellington Oliveira
Aconteceu no dia 13 de julho a terceira edição da marcha das vadias na Cidade de Curitiba. Esse evento contou com centenas de pessoas, mulheres homens, branc@s e negr@s, gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, que foram às ruas de Curitiba reivindicar o direito à liberdade da mulher de ser o que ela quiser e estar onde e com quem ela achar que lhe convenha.
A novidade dessa edição foi a participação de mulheres negras em todas as etapas do evento, desde a organização até a realização da marcha propriamente dita. Tais mulheres, inclusive lideranças de movimentos sociais de negras e negros, se colocaram nas ruas de forma super empoderada. Algumas estudantes da UFPR apresentaram uma rápida dramatização que buscou explicitar as angústias vividas pela mulher negra na sociedade Brasileira, destacando a dualidade de dois estigmas que pesam sobre ela, o da “santa”, enclausurada em sí mesma, sem voz, sem auto-estima, muitas vezes reclusa no ambiente doméstico e da “puta”, a mulher empoderada, bela, dona de si e por isso hipersexualizada e classificada de fácil e sempre disposta ao sexo.

A participação da mulher negra na marcha das vadias foi de fundamental importância porque chama a atenção para o drama vivido por ela na sociedade brasileira de maneira bastante singular. Isso ficou evidente nos olhares de estranhamento de muitas pessoas que se depararam com mulheres negras protestando e reivindicando o seu direito à liberdade de ser mulher da forma que acharem melhor.
                                   Foto de Wellington de Oliveira
Além do fato de ser mulher, ela tem ainda o estigma de ser negra. É a preterida para os relacionamentos sérios e para o casamento, é a grávida solteira que não tem direito a abortar e que terá que criar sozinha um filho não planejado e, nas raras vezes que se destaca na sociedade é como um corpo hipersexualizado.
Não bastar só ser a mulher negra nos xx% de vagas reservadas nas Universidades e nos concursos pùblicos. Essas mulheres querem mais. Querem o direito de criarem seus filhos com o apoio de seus pais. Querem ter o direito de usar o cabelo como quiserem, seja ao procurarem um emprego, ou au sairem para se divertir. Querem o direito de não serem apenas alunas universitarias, mas também professoras, reitoras, diretoras de departamento. Querem ser advogadas, juízas, procuradoras, médicas, prefeitas, governadoras, presidentas ou que elas tiverem vontade.
Mas acima de tudo o que essas mulheres querem e lutam para ter é que os seus direitos sejam respeitados.








                                                                                       Fotos Andréa Rosendo

sábado, 20 de julho de 2013

MINICURSO DE RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA PÓS-GRADUADO DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UFPR

Na semana do dia 01 A 05 de julho aconteceu no departamento de Ciências sociais da Universidade Federal do Paraná, o Minicurso de relações raciais comparadas: Brasil e Estados Unidos, ministrado pela socióloga e antropóloga Professora Doutora Vânia Penha-Lopes, da Universidade Bloomfield College, EUA. Esse minicurso foi uma iniciativa do Departamento de Ciências Sociais e contou também com o apoio do Núcleo de Estudos Afro brasileiros – NEAB, do Departamento de Educação e do Núcleo de Estudos de Gênero – NEG. Como é sabido, depois que as ações afirmativas foram implantadas nas Universidades brasileiras, sobretudo as cotas raciais, as discussões sobre a questão racial têm retornado ao meio acadêmico, mas ainda acontecem em meios muito localizados como no Congresso de Pesquisadores/as Negros/as – COPENE em NEABs e em discussões promovidas por alguns departamentos. O fato de esse minicurso acontecer no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná pode ser visto como uma conquista, uma vez que essa discussão não acontece de forma intensa no departamento; somente em algumas poucas disciplinas ministradas na antropologia. Foi uma semana de muito aprendizado sobre as relações raciais, sobretudo as dos Estados Unidos. Muitas concepções que até então eram tomadas como verdades foram desmitificadas no que concerne o assunto, pois conhecemos os Estados Unidos a partir de livros, filmes, etc., que na maioria as vezes, estabelecem clichês sobre o país. A professora Vânia começou o minicurso dizendo tradicionalmente que se costumou a olhar as relações raciais no Brasil como marcadas por uma segregação implícita, silenciosa, orientada pela ideologia do branqueamento e do mito da democracia racial e as relações raciais nos Estados Unidos como sendo caracterizadas por uma segregação explicita, marcada pelo apartheid – visão linear. Ela disse que ao comparar as relações raciais nos dois países de forma bipolar não é muito prudente. O ideal seria olhar para esses dois modelos de relações raciais de forma circular e não linear. Isso porque a mestiçagem como a busca de vantagens por ter a pele mais clara, características da sociedade brasileira, também existe nos Estados Unidos, bem como os estereótipos do homem negro e da mulher negra, por vezes sexualizada, mas para uma relação corriqueira e não para apresentar à família e a mulher negra dessexualizada, vista como uma mãe, ou tia de todos, mas que não se casou e cuida dos filhos dos outros. Outra novidade trazida pela professora Vânia nesse minicurso é o fato de que enquanto no Brasil, palavras que até então eram tidas como tabu como negro, preconceito racial, raça, estão se tornando comuns nos discursos escritos e falados, nos Estados Unidos acontece o contrário. Essas palavras eram ditas de forma bem mais aberta e hoje, a geração atual usa essas palavras de forma cautelosa ou escolhe palavras sinônimas e/ou politicamente corretas para se referir a negros e negras e ao preconceito racial.
Foto de Sérgio Miguel José