segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

PARTIU ROLEZINHO?


          


        Muito tem se falado do tal “Rolezinho”, que nada mais são do que o encontro de jovens de bairros periféricos, que se reúnem como muitos jovens por aí fazem, isso não era problema até eles escolherem como ponto de encontro os shoppings de São Paulo.
     Opiniões das mais diversas surgem no meio midiático e por fim nos temíveis comentários, e é em ambos que vemos qual a verdadeira cara da sociedade.
     Há quem argumente sobre a ótica social, outros vêem o ângulo racial, mas o que podemos afinal tirar de tudo isso?
    Os rolézinhos hoje são uma forma de resistência, tanto racial como social aos mecanismos que impedem a ocupação de negros e pobres em determinados espaços públicos, tanto geograficamente quanto socialmente. O Brasil ainda tende a separar aqueles que incomodam, e estes são todos que pertencem a esta massa pobre, não branca, gays, lésbicas, transsexuais, e demais grupos sociais considerados diferentes, que ousam ultrapassar o espaço que a princípio não deveria ser seu.
     Em entrevista recente ao site Geledés, o professor Alexandre Barbosa, Professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que se dedica a pesquisar as manifestações culturais das periferias paulistas, indaga o seguinte: “Será que a classe média entende que os jovens estão ‘roubando’ o direito exclusivo de eles consumirem? Direito que, por sua vez, vinha sendo roubado desses jovens pobres há muito tempo.”
   Por mais que algumas pessoas não admitam, existe sim uma segregação enraizada na cultura brasileira, e esta segregação é sim social e racial. Da mesma forma que os jovens ocuparam espaços que antes não lhes era permitido nos EUA, os jovens brasileiros de diversos grupos tem se apropriado de espaços antes destinados apenas a um determinado grupo social.


Tudo bem ser preto e pobre, desde que seja bem longe da gente.


Franklin McCain (de óculos) e outros 3 estudantes, em 1 de Fevereiro de 1960, em Greensboro, na Carolina do Norte, sentaram-se no balcão de um snack-bar reservado a brancos. Pediram café e donuts e, quando recusaram servi-los ficaram ali sentados até a loja fechar. Voltaram no dia a seguir e em todos os seguintes – os movimentos de ocupação de espaço chamados sit-ins ajudou a incendiar a luta pela igualdade entre brancos e negros na América dos anos 1960
FOTO: Jack G. Koebes

E o Estado o que tem a ver com isso afinal?


     A preocupação que mais parece preocupar o Estado é a de se livrar do problema ao invés de resolvê-lo. Não há qualquer interesse em resolver o problema social e racial que se arrasta desde o fim da escravidão.


Se o Estado não consegue resolver o problema da desigualdade social é melhor escondê-la, como fez o estado do Rio de Janeiro com suas comunidades.

     

      Tive a oportunidade de presenciar em Curitiba anos atrás (entre 2006 e 2007) algo parecido com o que ocorre hoje nos shoppings de São Paulo. Havia ouvido falar em conversas na universidade que o shopping Estação estava barrando os jovens que eram tidos com “vileiros”, e um dia quando estava indo ao shopping com a minha irmã pude ver com meus próprios olhos o acontecido.
     Logo que estava chegando vi um destes “vileiros” na entrada e após uma abordagem do segurança deu meia volta e se afastou. Perguntei então ao segurança porque ele não estava deixando aqueles jovens entrarem. Segundo ele, há alguns dias atrás havia acontecido uma briga entre eles (vileiros) dentro do shopping e por segurança estavam barrando sua entrada. (A “cidade europeia” Lerniana precisa ser protegida da violência dessa gente e manter o seu estereótipo). 
     O Estado então, quando permite que uma liminar seja lavrada para proibir a entrada destes jovens onde quer que seja, está demonstrando sua posição, sendo tal atitude, favorável a uma parcela da população, que é mínima, e precisa ser protegida destes “vândalos” que ainda por cima são funkeiros.
      Vemos vários posts compartilhados como este abaixo, que reforçam de forma equivocada, o imaginário de quem são estas pessoas que participam dos “rolezinhos”: funkeiros, desempregados, arruaceiros e etc. Isto nada mais é que evidenciar, rotular e excluir uma classe social que precisa ser combatida e cuja existência incomoda e envergonha a classe dominante.




      





      A ocupação dos espaços sociais incomodam e muito, seja nos shoppings ou nas universidades (como é o caso da política de cotas que gera muita discussão) as políticas de inclusão foram apenas um pontapé na ferida social que o país carrega.
      O que a sociedade em geral precisa ter em mente é que (parafraseando o blog Torres daHeresia) se hoje muitos têm uma opinião equivocada acerca dos movimentos que acontecem na sociedade, o que eu posso dizer para essas pessoas é que o mundo só muda quando existem pessoas como nós, que lutam contra os ditames de uma época. Se hoje temos algum tipo de liberdade e democracia é graças aos negros, mulheres e jovens “vagabundos e sem vergonhas” de épocas passadas que estiveram na luta enfrentando os moralismos e as instituições daquela época.




Por Priscila Souza