quinta-feira, 21 de novembro de 2013

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NO PROGRAMA DE TELEVISÃO ESQUENTA: EQUÍVOCOS E REFORÇO DE ESTEREÓTIPOS. AINDA HÁ MUITO O QUE FAZER

O programa Esquenta da Rede Globo do último domingo 17 de novembro, fez um edição especial em comemoração ao dia da consciência negra. Esse programa que tem como apresentadora a atriz Regina Casé, caracteriza-se por trazer para a mídia um número considerável moradores da periferia, dentre eles de negros, mestiços, bem como atores e cantores negros da televisão brasileira. Há uma pretensão, dita abertamente de combater o racismo e dizer que no Brasil somos todos iguais – mito da democracia racial.

Neste último domingo o Esquenta contou com um público bem mais negro e com discussões, figurinos e apelos à questão do negro na sociedade brasileira. Mas embora os negros estivessem quantitativamente representados neste programa de tarde de domingo, os estereótipos continuavam a ser reforçados. Estavam presentes a Juiza Luizlinda, única desembargadora negra, a atriz Thaís Araújo, o ator Luíz Miranda e a ministra da Igualdade Racial. No programa esquenta normalemente os negros e mestiços estão neste programa para dançar e cantar, mas a fala científica sobre sua cultura, sobre o modo de vida da periferia é branca; é sempre um intelecutual branco que tem a palavra. É a essêncialização das culturas e das raças. É o “Danço logo existo” complementado com o “Penso logo existo”. Os negros que resolvem pensar para logo existir têm de fato vez na mídia e demais espaços da sociedade brasileira?

Neste domingo a intelectual negra ministra da igualdade racial, Luiza Bairros teve a oportunidade de falar duas vezes sobre a Lei 10639/03 que há dez anos reza que as escolas brasileiras ensinem a cultura e história Afro-brasiliera e africana. Sua fala foi completada pela de um intelectual branco. Isso mostra o fato evidente de que a ciência brasileira pretende ainda ser branca. Mesmo quando um intelectual negro tem a oportunidade de falar neste programa, é necessário que um intelectual branco legitime a sua fala.

A Juiza Luislinda, uma referência para os negros e mestiços, sobretudo para estudantes de direito, teve 10 segundos para falar, sendo interrompida pela Regina Casé, pois os programa precisava continuar a seguir sua pauta de acontecimentos. 

A Thaís Araujos, esperança de uma fala que realmente quebrasse todo o enredo do mito da democracia racial que perpassa todo o programa - e não fora diferente neste domingo - reproduziu e reforçou ainda mais o discurso do mito da democracia racial e da ideologia do branqueamento da população brasileira, ao falar da cor do filho que tem com o Ator Lazaro o Ramos e da cor de seu pai. Nas suas palavras:

“Minha mãe é mais negra, meu pai é filho de um negro com a pele um pouco mais clara com uma austríaca. Você olha pro meu pai, e ele é bem brancão, cheio de sardas, narigão… Ele é bem misturadão” e “Meu filho é bicolor. O rosto dele é da minha cor e o resto do corpo dele é pretinho igual ao pai dele”

De fato há muito o que fazer. O mito da democracia racial e a ideologia do branqueamento continuam a ser uma armadilha que impedem o resgate da iniciativa história da população negra na sociedade brasileira.