terça-feira, 22 de outubro de 2013

NOTA SOBRE O FILME “O GRANDE DESAFIO”



Como mais uma edição do Cinegro, atividade realizada pelo Coletivo de estudantes negrxs da UFPR – Coletivo “Sou neguinh@”, assistimos e debatemos no sábado (19/10) ao filme “O grande desafio”. Um filme baseado em uma história real cujo protagonista é o professor Melvin Tolson (personagem de Denzel Washington) e ambientado em um contexto sociorracial do sul dos EUA de 1935.
Melvin Thompson é um professor excepcional e um amante das palavras. E para além da sala de aula ele é um cidadão estadunidense que a partir de suas convicções políticas comunistas, busca conscientizar a população para se unir e fazer valer seus direitos trabalhistas, embora isso possa atrapalhar sua carreira. Melvin Thompson identifica alunos da pequena Faculdade Wiley College do Texas, com um grande potencial e decide apostar neles para formar um grupo de debatedores, a fim de participar de concursos de debate no país, chegando a alcançar seu grande objetivo, enfrentar a tradição de Harvard diante de uma grande plateia.
Segue aqui um pouco do que assistimos, debatemos e aprendemos com esse filme. Em primeiro lugar foi consenso, entre os participantes no debate, que o filme apresenta muitas semelhanças, no que se refere aos efeitos sociais e psicológicos do racismo contra os negros, entre o contexto sociorracial dos Estados Unidos e o contexto brasileiro, a saber: a existência dos preconceitos, da discriminação (mais velada talvez) e a marginalização socioeconômica como resultado deste fenômeno social. Mesmo que o racismo naquele contexto tenha tido estratégias sociais diferentes do Brasil, como já é conhecido e difundido.
Contudo, o filme tem um significado afirmativo. Vale destacar o papel da educação e, particularmente, do trabalho do professor da pequena faculdade negra Wiley que se propõe preparar uma vencedora “equipe de debatedores” que, depois de concorrer com diversas universidades negras e brancas, vence a famosa universidade de Harvard. Mas a preparação dessa equipe não foi sem conflitos de várias ordens, já que em diversos momentos do filme no que se refere a questões emocionais e afetivas (traumas, ciúmes, traição amorosa, insegurança emocional, vulnerabilidade social) e políticas (dificuldade de aceitação da opção política do professor na organização de trabalhadores arrendatários) ameaçaram a coesão e desempenho da equipe de debatedores.
No debate que seguiu à exibição se evidenciou aspectos significativos. Destaca-se a discussão sobre a importância das igrejas protestantes, bem como das universidades negras, já nos anos 1930, como “espaços públicos” de educação e formação política dos negros estadunidenses; a solidariedade de grupo; a superação de dificuldades subjetivas como o medo; a preparação intelectual e emocional de negros e negras; a situação de submissão da mulher, bem como a indicação de nova atitude por parte de jovens mulheres negras (presença de uma mulher na equipe de debatedores); e a importância de modelos referenciais como fator de encorajamento dos jovens, entre outras coisas. Como se pode perceber tais evidências podem dar uma ideia da riqueza que foi assistir e discutir um filme coletivamente, pois a contribuição de diversos pontos de vistas e de saberes pôde proporcionar reflexões muito significativas.
Por fim, aprendemos a partir do filme e do debate que a preparação da “equipe de debatedores” representa uma bela e profunda metáfora do processo histórico-cultural dos negrxs estadunidenses. O filme mostra, no fundo, uma geração de lideranças negras na atividade de preparação de nova geração de lideranças negras que dará continuidade à luta pelos direitos civis dos negros naquele país.  Em última análise, o filme pode ser uma metáfora sobre nós também, negrxs brasileirxs em movimento, pois evidência os desafios sociais e psicológicos que precisaremos enfrentar se quisermos ser uma nova geração de lideranças negras que produza alguma consequência socialmente positiva para nós mesmos, como pessoas, para o conjunto de nosso grupo social e para o Brasil.

 José Antonio Marçal   


Um comentário:

  1. Há um outro filme que não foi lançado no Brasil, de título O mordomo da casa branca, como um elenco que participou do "O Grande Debate", inclusive a Oprah Winfrey e o Forest. Creio que em Fevereiro estará aqui, uma sugestão antecipada para uma possível exibição. Tem outros filmes importantes, como Malcon X e Missisipi em Chamas, para entrar nesta lista.

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