Entre os dias 24, 25 e 26 de julho aconteceu em Pelotas/Rio
Grande do Sul, o 1° Congresso brasileiro dos pesquisadores e pesquisadoras
negras, COPENE Sul. Pesquisadores negros/as e brancos/as da Região Sul do
Brasil se encontraram no Instituto Federal Sul Rio Grandense – IFSUL, para
partilhar suas pesquisas, descobertas, e inquietações acerca da temática das
relações étnico raciais e dos enfrentamentos que os/as negros/as têm na
academia, na sociedade e no sistema educacional brasileiro como um todo, ao
discutirem essa questão enquanto acadêmicos ou militantes. Os 10 anos da Lei
10.639/03 foram tidos como o eixo central que orientou as discussões que aconteceram
nos grupos de trabalhos e nas mesas redondas. O tema do congresso foi: “Lei
10639, dez anos rompendo fronteiras territoriais, culturais, sociais,
acadêmicas e políticas”.
Foto de Natália Luíza |
A organização do congresso proporcionou aos
participantes uma calorosa e amistosa recepção, o que proporcionou uma maior
integração entre pesquisadores/as negros/as dos estados do Sul que se
encontravam, para partilhar seus trabalhos sobre relações étnico-raciais.
Abertura
COPENE Sul foi feita pela coordenadora do evento, Georgina Helena Lima Nunes.
Ela falou da realização desse evento como uma vitória, uma vez que fora
necessário o diálogo entre diferentes instituições das cidades e dos estados
para que o congresso se realizasse.
A mesa de abertura do congresso contou com a presença da
própria Georgina, do reitor da UFRGS, Carlos Alexandre Netto, do reitor da
Universidade de Pelotas, Mauro Augusto Burkert Del Pino, do reitor da
PUC de pelotas, José Carlos Pereira Bachettini Júnior e do Presidente da
Associação Brasileira de pesquisadores (a) negros (as) – ABPN, professor
Paulino Cardoso, Secretária de Educação de Pelotas e Pro Reitora de Assunto
Estudantis.
Foto de Natália Luíza
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O professor Paulino disse na mesa de abertura que “vivemos
em um novo ciclo democrático, temos empregos, escolas, etc, mas queremos muito
mais. Queremos fazer avançara democracia” brasileira. Ele ressaltou
ainda que “não é possível construir uma democracia sem o enfrentamento das
questões raciais”.
Na abertura do
evento foram homenageadas personalidades importantes para a luta da população
negra, seja na academia, seja na militância ou na divulgação e defesa da
cultura negra em outros espaços. Dentre os homenageados tivemos a sacerdotisa e
pesquisadora paranaense, Yagunam, mestranda na Universidade Tecnológica do PR. Personalidade importante na manutenção das
tradições africanas no estado paranaense, e estudiosa das relações entre as
tecnologias e a religiões d matrizes africanas.
A
conferência de abertura do congresso foi realizada pela professora Doutora Petronilha Beatriz G. Da Silva da UFSCAR. Ela
iniciou sua fala dizendo que o COPENE Sul “não é apenas um evento cientifico,
mas um evento científico negro” e, a construção desse pensamento está chegando na universidade. Petronilha
ressaltou também a importância dos “aliados” brancos nesse processo de
mudanças significativas na academia uma vez que eles “nos ajudam” como
contraponto para dialogar em espaços em que a presença negra ainda não é aceita
pela sociedade.
Foto de Natália Luíza
Mesa de conferência de abertura: Tema: Historicidade da lei 10639/03 e o papel do/a intelectual negro/a na educação.
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Petronilha ressaltou também que é necessário
reconstruir a história e a identidade do povo negro a partir de um referencial
negro, pois segundo ela os prêmios da meritocracia “nos pedem como
contrapartida, que “esqueçamos nossa identidade e embranqueçamos”. A identidade
negra tem sido construída no confronto com uma visão de mundo eurocêntrico, com
uma “mentalidade branca”. A negritude é segundo Petronilha, uma construção
permanente, mas é também uma desconstrução do sistema mundo”. Assim, a
discussão das relações raciais “não é apenas assunto de negros, e discussão
para negros.” é por isso que chega a lei 10639. Dito de outra foram, as
relações raciais do Brasil não se configuram apenas como problema só do negro, mas de toda a
sociedade brasileira.
Um fato interessante desse congresso foi além da
reunião dos NEABs horas antes da abertura do evento, a reunião dos Coletivos de
Estudantes Negros/as, que em algumas universidades existem em função da
ausência de NEAB e em outros em função da busca de autonomia e empoderamento
dos estudantes negros/as da universidade. Esse encontro foi articulado no
decorrer do congresso (não estava previsto) e foi muito produtivo porque
possibilitou que jovens estudantes negros se conhecessem e trocassem
experiências de como lidar com as situações de racismo e gerenciar os
enfrentamos no cotidiano da vida acadêmica. Ficou plantada a semente de uma
futura organização regional e nacional dos coletivos de estudantes negros do país
para que eles possam se fortalecer e articular atividades em comum.
Foto Natália Luíza Yagunam homenageada do COPENE Sul |
Foto de Sérgio José Miguel Exposição de painéis: ‘’Lei 10639/03 para além das fronteiras da educação’’. |
Foto de Sérgio José Miguel Reunião de estudantes negros/as e de coletivos do Sul. |
Fotos de Sérgio José Miguel |
Foto de Sérgio José Miguel Representantes dos Coletivos presentes no evento. |